POLÍTICA MINERAL | Novo marco da mineração é 'receita do caos', dizem integrantes do setor
A Subcomissão Permanente de Acompanhamento do Setor de Mineração
realizou na segunda-feira (24/08) sua primeira audiência pública, de uma
série de sete, para embasar as discussões sobre um novo marco
regulatório para o setor. Os especialistas ouvidos na reunião
manifestaram preocupação com o projeto já existente, que, segundo eles,
não supre as necessidades do setor produtivo.
Tramita na Câmara dos Deputados há dois anos o PL 5807/2013, oferecido pelo Executivo federal, que propõe uma reformulação do Código de Mineração.
De acordo com os convidados da audiência desta segunda, que representam
entidades da indústria mineradora, o projeto foi elaborado de forma
inadequada.
- O projeto é a receita do caos. Foi gerado no Planalto sem ouvir o
setor e sem produzir documentos técnicos para embasar as alterações
propostas. Nossa avaliação é que ele promoveria um 'apagão mineral' no
país caso fosse aprovado – criticou Elmer Prata Salomão, presidente da
Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM).
Para Salomão, o aspecto que mais prejudica a proposta do novo marco é
o fato de que o projeto de lei tenta abordar, ao mesmo tempo, três
grandes áreas que deveriam ter seus projetos específicos: a questão
jurídica, as regras arrecadatórias e a criação de uma Agência Nacional
de Mineração. Ele disse crer que o acúmulo desses temas tem dificultado a
criação de um consenso.
João César de Freitas Pinheiro, presidente da Federação Brasileira de
Geólogos (Febrageo), também questionou a decisão de se criar uma
proposta “três-em-um”, e disse que os profissionais de seu campo estão
“desesperançados”. Ele crê que falta planejamento e diálogo entre os
setores público e privado.
- Falta nos organizarmos para planejar e executar uma política
mineral madura, que não saia da cabeça de alguns 'iluminados' mas de
discussões sérias – disse.
Gargalos
Marcos André Gonçalves, presidente da Agência para o Desenvolvimento
Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), listou dois
problemas do setor de mineração que exigem atenção mais imediata: como
criar condições para o empreendedorismo na área, que é de alto risco, e
como evoluir as tecnologias relevantes para potencializar a descoberta
de novas jazidas.
- Antes de começar a mexer tanto no código, temos que trazer essas
discussões que estão pendentes. A discussão do novo marco veio e
postergou toda a questão estrutural. Ele tem que ser reposicionado –
avalia.
A configuração jurídica da exploração mineral no Brasil também impõe
desafios. Conforme explica Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de Assuntos
Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), qualquer
transformação estrutural no setor precisa levar em consideração esse
enquadramento.
- O sistema que se adotou é que os meios minerais pertencem à União,
mas a sua exploração é feita pelo setor privado. Gerir essa combinação
de esforços dos dois lados é um dos maiores problemas – explicou ele.
A lista de gargalos apontada pelos convidados inclui também a
infraestrutura de transportes e energia, a legislação ambiental
restritiva, a má gestão de recursos, a atração de investimentos, a
qualificação de mão-de-obra, os custos operacionais e a falta de
percepção da sociedade em relação à importância da atividade mineradora.
Exemplificando este último ponto, Fernando Mendes Valverde,
presidente executivo da Associação Nacional das Entidades de Produtores
de Agregados para Construção Civil (Anepac) expôs o fato de que muitas
administrações municipais vêm proibindo a atividade mineradora em seus
territórios ao mesmo tempo em que intensificam a compra de recursos
minerais de outras localidades.
Agência
Os especialistas ouvidos foram unânimes no apoio à criação da Agência
Nacional de Mineração, que seria uma expansão do atual Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM). Para eles, o novo órgão pode dar
ordenamento ao setor, estimular políticas públicas e reduzir
burocracias.
No entanto, eles ressaltaram ser necessário prover o DNPM de uma
estrutura funcional própria para que essa conversão aconteça. Do
contrário, a futura agência seria incapaz de cumprir suas atribuições.
- A plataforma atual está sucateada, sem recursos para fazer uma
simples vistoria de campo. Não consegue gerir o que temos hoje. Se a
agência for criada sem orçamento, estrutura física e plano de carreira,
vamos só trocar a placa – alertou Salomão.
Agenda futura
A Subcomissão de Mineração realizará nova audiência pública no dia 14
de setembro, para tratar, especificamente, do setor de minerais
metálicos (como ferro, ouro e alumínio). O presidente da subcomissão,
senador Wilder Morais (DEM-GO), disse que o trabalho do colegiado
representa um compromisso do Senado com o setor da mineração, que é de
alto interesse social.
O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), presidente da Comissão de
Serviços de Infraestrutura (CI) – que abriga a Subcomissão de Mineração
–, compareceu à audiência desta segunda-feira e disse estar satisfeito
com o nível do debate apresentado. Ele colocou a CI à disposição dos
representantes do setor e disse ter certeza de que é possível chegar a
soluções para destravar essa atividade econômica.
(Agência Senado)
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